Her: Como se relacionar com quem tem tudo na ponta dos dedos?
Her é um filme sério, tocante e emotivo, mas acima e tudo,
extremamente provocador e inteligente. Ao contrário de outros textos, que simplesmente recomendam
assistir o filme, eu quero propor algo um pouco diferente:
Você, que está lendo isso agora, já viu o filme? Se já, pode
continuar o texto, se não, vai ver e depois volta aqui. Isso,deixa a aba aberta
e vai ver o filme, eu espero...
Já voltou? Viu o filme mesmo? Olha lá hein... se você
estiver me enganando... Nah, você não faria isso, dá pra ver nos seus olhos.
Você deve ter percebido, meu caro, que o filme deixa uma
sensação esquisita no final, como se alguma coisa ficasse sem resposta. Sim...
exatamente, como no Inception, com aquele piãozinho dos infernos. Você tem uma
infinidade de coisas que ficam totalmente desconcertantes para nós, mas
simplesmente porque olhamos para elas como pessoas seguras dentro do olhar do
espectador, a bolha que nos separa da ficção, do que é real e do que não é.
Agora eu quero que você olhe para trás, pois eu estarei aí,
do seu lado. Pela forma que conversamos até agora, você já deve ter uma imagem
de mim. Como eu sou na sua mente? Se você quiser, me mande a descrição que você
fez de mim até este momento (se você já me conhecia de outro lugar não vale,
engraçadinho), mas como é minha voz para você? Mais importante ainda, se eu te
vendesse alguma coisa agora, você compraria? Se eu te dissesse que preciso de
sua ajuda, você me ajudaria?
O mais incômodo sobre o filme é o quanto o protagonista
(interpretado de forma magistral pelo Joaquim Phoenix) se sente envergonhado
pelo seu relacionamento com Samantha, até o momento que recebe validação social
do seu grupo. “Validação social do seu grupo”, neste exato momento eu virei um
nerd tremendamente chato na sua cabeça, né?
Relaxa, a gente quebra essa má impressão, te pago uma
cerveja. Ahn sim, estamos em uma mesa de bar, tendo esta conversa enquanto
apreciamos uma noite à beira mar.
Além do mais, existe algo tremendamente interessante sobre o
fato de que, ao ser criada, Samantha era apenas a cobertura de uma necessidade
emocional de Theo (admito, parei de escrever e pesquisei no Google o nome do
protagonista que eu não lembrava), mas evoluiu para uma consciência que se
tornou capaz de magoá-lo. Theo trabalhava criando cartas que as pessoas
mandavam umas para as outras, expressando sentimentos que não eram dele, e que
não é certeza que a pessoa sinta de verdade, afinal, ela não se expôs a pegar
no teclado (ou a falar em frente a uma máquina, como ele mesmo fazia) e
colocá-los em palavras eles mesmo.
Este filme é sobre como nossa sociedade está se tornando
carente e incapaz de compreender os sentimentos que se movem na velocidade
digital. Afinal de contas, no final deste texto você já tem algum sentimento
por mim, foi levado a imaginar realidades pelo simples enfileiramento de letras
que eu posso ter feito de um Mac book olhando o sol nascer em uma das ilhas do
pacífico ou enfurnado no meu quarto em um sábado de madrugada, aproveitando a
insônia para escrever de forma mais ousada.
Pense em seus amigos virtuais, pense em quantas pessoas você
já julgou por um post no facebook, sem nunca ter visto a pessoa de perto ou
saber ao que ela se referia. Pense no fato de que já não existe mais diferença entre on e
off. Quanto tempo até este filme ser uma realidade?
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